quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Saiba como são treinados os cães que fazem resgate com bombeiros de SP

Cachorros são selecionados quando filhotes para trabalhar na corporação.
Ao se aposentarem, são doados a bombeiros que os adestraram.

Paulo Toledo Piza Do G1, em São Paulo


Foto: Daigo Oliva/G1

Labradora Safira posa ao lado de bombeiros em quartel em São Paulo (Foto: Daigo Oliva/G1)

Fortes, corajosos e dispostos ao trabalho, esses profissionais diariamente passam por treinos que levam ao limite a inteligência e os sentidos. Uma vez ou outra, vão a cenários de desastres atrás de vítimas desaparecidas. E, como recompensa por todo esse esforço, exigem apenas um prato cheio de ração, brinquedos e muito afago. É assim que vivem os nove cães do Corpo de Bombeiros de São Paulo, lotados no posto do Ipiranga, na Zona Sul da capital paulista. O G1 visitou o canil da corporação e conferiu a rotina desses “soldados de quatro patas”.

Veja galeria de fotos do treinamento


Para fazer parte do seleto grupo de salvamento, não basta ter o faro apurado: os cachorros precisam ser curiosos, dóceis e brincalhões. Para verificar se os bichos têm essas características, quando filhotes eles são submetidos a provas que testam suas capacidades.

“O cão tem de se adaptar às condições de trabalho. Ele não pode ter medo de barulhos. Por isso, o levamos perto de sirenes e do caminhão dos bombeiros, por exemplo”, disse o tenente Luciano Almeida, comandante do quartel do Ipiranga.


Os filhotes que se assustam com a barulheira logo são reprovados e devolvidos ao criador. A fim de selecionar apenas os melhores animais, a corporação tem acordo com alguns canis para fazer esses testes. Apenas os aprovados são comprados.

Algumas raças são preferidas pelos bombeiros por conta de sua disposição e facilidade no trato. “Usamos muito as raças labrador e pastor belga de malinois”, acrescentou o tenente. Dos nove animais no canil, há, atualmente, cinco pastores, três labradores e um golden retriever.

Após a seleção, os pequenos “ganham”, cada um, seu próprio cinotécnico –nome dado aos bombeiros treinadores. O cinotécnico será responsável pelo adestramento e acompanhamento do cão até a aposentadoria do bicho.

Treino


Nos primeiros dois anos, o cachorro é treinado pelo bombeiro para obedecer a comandos básicos e para aprender a procurar pessoas. A prova básica consiste em esconder uma pessoa em caixotes ou em um local de difícil acesso e pedir ao cão que o localize (veja vídeo). Ao cumprir a missão, recebe afagos e brinquedos.
Para não condicionar o cão ao mesmo ambiente, os bombeiros constantemente mudam o cenário do treinamento. “Temos contato com demolidoras. Quando começa a demolição, levamos os cachorros ao local”, afirmou o tenente.

Entre o 1 ano e meio e os dois anos de idade, o cachorro está pronto para o trabalho. E o serviço é bem extenuante. Jade, uma pastor belga de malinois, sabe mais do que ninguém como é puxado –e importante- seu trabalho.


Com apenas 2 anos de idade, Jade já participou de ocorrências que causaram comoção, como o deslizamento de terra ocorrido no último dia 8, em Cidade A.E. Carvalho, na Zona Leste de São Paulo. O desmoronamento de três casas deixou duas crianças mortas e coube a Jade indicar o local onde estavam os corpos.

“Ela também foi comigo a Santa Catarina, pela Força Nacional de Segurança, quando aconteceram as chuvas no ano passado”, disse o cabo Laércio Lelis, treinador da pastora. Lá, ela localizou 12 corpos.

Outra cadelinha calejada é a labradora Safira, de 6 anos. Com seu treinador, o cabo Sidnei Salgado, participou das buscas por vítimas da cratera do Metrô de São Paulo, ocorrida em janeiro de 2007, do desabamento do teto da Igreja Renascer, no começo deste ano, e do deslizamento de terra que vitimou três pessoas em Osasco, na Grande São Paulo, na semana passada.

A rotina de treinamentos e serviços termina quando o cachorro atinge a idade de 8 anos. “A qualidade do serviço cai”, disse o tenente Almeida. O cão, então, é doado ao bombeiro que o treinou e o acompanhou durante os salvamentos. “O vínculo criado entre o cachorro e o adestrador é muito grande”, conta Almeida.

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